domingo

Sigmund Freud- O método psicanalítico

"O tratamento psicanalítico não comporta senão uma troca de palavras entre o analisado e o médico. O paciente fala, conta os acontecimentos da sua vida passada e as suas emoções. O médico esforça-se por dirigir a marcha das ideias do paciente, desperta recordações, orienta a sua atenção em certos sentidos, dá-lhe explicações e observa reacções de compreensão ou incompreensão que provoca no doente. (...)
As palavras faziam primitivamente parte da magia e nos nossos dias a palavra guarda muito do seu poder de outrora. Com palavras um Homem pode tornar o seu semelhante feliz ou levá-lo ao desespero, e é com ajuda das palavras que o mestre transmite o seu saber aos alunos, que o orador empolga os auditores e determina os seus juízos e decisões."
Freud, S., Introduction à la Psychanalyse, Payot, 1976. pp. 15-16
     Com o objectivo de conhecer o inconsciente Freud estabelece um conjunto de procedimentos que nos podem fornecer informações sobre o inconsciente do paciente, responsável pelos seus distúrbios:
  • Hipnose - Induzir o paciente, através de uma sugestão intensa,  num estado semelhante ao sono mas no qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para determinada acção ou comportamento.
  • Interpretação dos sonhos - Os sonhos apresentam imagens de recalcamentos, ansiedades e medos, que depois de interpretados vão permitir ao psicanalista confirmar os resultados das suas investigações sobre problemas de comportamento apresentados pelo paciente. É o meio de exploração mais seguro dos processos psíquicos. O material recalcado liberta-se e o desejo, geralmente de natureza afectivo-sexual pode realizar-se, pois o controlo e a censura que o ego e o superego exercem sobre os desejos inconscientes encontram-se atenuados. A censura não desaparece, está apenas atenuada, daí que o desejo só se possa realizar de uma forma simbólica, distorcida. Por isso, os sonhos têm de ser interpretados. Freud defende que devemos distinguir o sonho como o recordamos de manhã, do seu verdadeiro significado. Chamou às imagens oníricas, ou seja, ao “filme” que sonhamos, o conteúdo manifesto do sonho. Este conteúdo manifesto exibe acontecimentos que se deram recentemente, muitas vezes no dia anterior. Mas, o sonho tem também um significado mais profundo e oculto à consciência. Freud chamou-lhe conteúdo onírico latente. Estes pensamentos ocultos de que o sonho trata, podem dizer respeito, por exemplo, à nossa infância. 
  • Análise de actos falhados - São fenómenos ligados a lapsos, de escrita, esquecimentos momentâneos de palavras. São de carácter insignificante e de curta duração. É frequente, no nosso quotidiano, cometermos um conjunto de acções perturbadoras, de lapsos, como por exemplo o esquecimento de objectos usuais (chaves, carteira), lapsos de linguagem, como trocar uma palavra por outra, etc. o lapso mais frequente consiste em fazer exactamente o contrário do que se pretende fazer. Estes comportamentos perturbados têm um sentido de que o sujeito não tem consciência. O seu significado só é esclarecido quando se relacionam com motivos inconscientes de quem os realiza. Os actos falhados resultam da interferência de intenções diferentes que entram em conflito – são desejos recalcados que dão origem aos actos falhados. A análise dos actos falhados vai permitir uma melhor interpretação dos sintomas do paciente.
  • Análise de transferência - Transferência inconsciente para a figura do psicanalista de sentimentos de ternura ou de hostilidade, actualizando situações reprimidas e esquecidas para que o psicanalista possa detectar as razões do conflito inconsciente. A actualização dos sentimentos e emoções como desejos, medos, ciúmes, ternura e amor, que na infância eram dirigidos aos pais e irmãos são agora transferidos para o analista. As relações imaturas infantis são como que repetidas e actualizadas através do processo de transferência. É um processo de catarse, de descarga psíquica, restabelecendo a relação entre a emoção e o objecto que inicialmente a despertou.
  • Associações livres - O paciente deve expressar livremente o que lhe vem à mente, expondo aquilo que sente, sem se preocupar com a descrição lógica ou como o sentido daquilo que diz. Com a ajuda do psicanalista, o paciente deve reviver terapeuticamente o seu passado, até à infância, onde estão, para Freud, as raízes dos problemas. O objectivo seria reviver os eventos traumatizantes, interpretá-los e compreendê-los de forma a dar ao ego a possibilidade de um controlo sobre as pulsões. O processo desenrola-se num cenário adequado, o mais relaxante possível.

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